A educação é extremamente reconhecida como o melhor começo para a vida de um bebê, promovendo benefícios nutricionais, imunológicos e emocionais inigualáveis. Contudo, muitas mães se veem pressionadas a recorrer à fórmula infantil precocemente, motivadas pela crença de que seu leite não é suficiente para suprir as necessidades do bebê. A ideia de que o leite materno é “fraco” ou insuficiente é um mito persistente que, na maioria das vezes, não tem base científica.
O “Mito do Leite Fraco”
Muitas mães acabam introduzindo a fórmula devido à percepção de que não estão produzindo leite suficiente, um fenômeno que ocorre principalmente nas primeiras semanas de vida, quando os bebês passam por picos de crescimento e são excluídos mais alimentos. Estudos, como os publicados pela renomada revista The Lancet , revelam que tais são frequentemente infundados. Segundo uma pesquisa, 44,8% das mulheres optam por fórmulas acreditando que seu leite não é suficiente. No entanto, esses “fomes” e distúrbios no sono são comuns e fazem parte do processo natural do bebê se adaptar à vida fora do útero. Essa desinformação, muitas vezes exacerbada pela pressão social e marketing, leva a uma diminuição significativa das taxas de amamentação exclusiva, com menos da metade dos bebês sendo amamentados exclusivamente até os seis meses, como recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
A Influência da Indústria de Fórmulas
Outro fator relevante que impulsiona o uso precoce da fórmula infantil é o marketing agressivo das indústrias de alimentos infantis. Empresas multinacionais, como a Nestlé, são promovidas como fórmulas desde o século XIX, quando o químico Justus von Liebig patenteou a primeira fórmula. A partir da década de 1900, as fórmulas passaram a ser vendidas como uma alternativa moderna e até superior ao leite materno. Esse marketing tem um impacto profundo, principalmente em países em desenvolvimento, onde as mães são levadas a acreditar que a fórmula é a melhor solução para a saúde de seus filhos.
Contudo, a realidade é que em regiões com acesso limitado à água potável, a prática de diluir fórmulas com água contaminada resulta em sérios riscos à saúde, incluindo a mortalidade infantil. Maria Inês Couto de Oliveira, da IBFAN (International Baby-Food Action Network), destaca que uma fórmula infantil, quando mal preparada, pode ser um perigo, especialmente em contextos onde não está disponível água de qualidade. Isso não reflete apenas a falta de infraestrutura de saúde, mas também a maneira como o marketing da indústria pode obscurecer as consequências reais de seu uso.
A Pressão Social e a Sobrecarga das Mães
A pressão para que a mãe “faça tudo certo” durante a amamentação não se limita apenas à influência das empresas. A sociedade em geral tem reforçado essa ideia de que a responsabilidade pela alimentação e saúde do bebê é exclusivamente da mãe, o que contribui para uma sobrecarga emocional significativa. A Rossana Soletti e a jornalista Chloé Pinheiro, em uma discussão no podcast Ciência Suja , ressaltam como essa pressão é desproporcionalmente colocada sobre as mães, enquanto os pais muitas vezes não são cobrados de forma igual.
Além disso, o impacto das barreiras estruturais que gostaria, como a falta de licença-maternidade adequada, é crucial para entender por que tantas mães não amamentam por tanto tempo quanto elas. A OMS recomenda amamentação exclusiva até os seis meses de idade, mas a realidade é que muitas mulheres precisam retornar ao trabalho antes de alcançarem essa meta, prejudicando a continuidade da amamentação.
O Que Está em Jogo?
Fórmulas infantis podem ser uma alternativa válida para mães que, por diferentes motivos, não podem ou não interessam amamentar. No entanto, é importante compreender que a fórmula não deve ser vista como uma solução mágica para todos os problemas infantis, como a dificuldade de sono ou a percepção de que o bebê está sempre com fome. Os especialistas alertam que as soluções individuais não devem mascarar os problemas coletivos que envolvem a saúde materno-infantil, como a falta de apoio social e políticas públicas específicas para mães e bebês.
Você sabia que em países com licenças-maternidade mais longas, as taxas de parto exclusivas aumentam em até 50%? Investir em políticas públicas e em um sistema de saúde que apoie verdadeiramente a amamentação é essencial para garantir que mais mães tenham a chance de alimentar seus bebês de forma exclusiva e saudável, sem recorrer a alternativas como a fórmula infantil.